segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Capítulo 26 - Caos


O sol está no seu ponto mais alto no céu nos banhando com seu calor revigorante quando entramos na cidade de Dan. Nossa viagem está marcada para o dia seguinte e voltamos para buscar nossas coisas. Dan não queria voltar, por não gostar de despedidas. Mas eu insistira, sua mãe não merecia a dor de ver Dan fugir novamente sem lhe dar mais notícias.

Eu agradeci quando ele me prometeu que voltaríamos para visitá-los assim que tudo estivesse resolvido, o que talvez seja possível se Dan conseguir contatar as pessoas que haviam ajudado meu pai e auxiliá-los a tomar o poder de Silas. A família de Dan é o mais próximo de família que eu tenho. O carinho materno de sua mãe e a altivez do seu pai, que dá lugar à sua sabedoria, quando se acalma.

E Dan. Dan, minha família, meu sol, meu tudo. Dan observa curioso minha expressão contemplativa quando entramos em sua rua, passando pela praça repleta de crianças brincando de ser feliz. Eu sorrio para ele e me sinto incrivelmente completa, como se o vazio que se abrira em minha alma desde a morte dos meus pais tivesse finalmente se fechando, como se os meus ferimentos finalmente cicatrizassem.

E eu o beijo em gratidão antes que meus olhos se deparem com o caos. Uma vez que voltando o meu olhar para a casa dos pais de Dan, encontro um automóvel escuro estacionado à sua frente. Eu reprimo meu grito de horror, quando vejo Dan transtornado sair do carro num impulso, percorrendo a distância até a casa antes mesmo que eu consiga me desvencilhar do cinto de segurança.

Percorro a distância como num sonho em que estamos fugindo, mas que por mais que lutemos com todas as nossas forças, mal conseguimos nos mover. Alcançando a sala, vejo Dan atormentado socorrer Adelaide fora de si, quase sem sentidos.  Ela se debate contra seu abraço, gritando palavras sem sentido, tentando se afastar dele, enquanto Heitor, enfurecido, tenta protegê-la.

Não sou apenas eu que observo a cena. Há um homem de cabelos escuros e curtos na sala admirando tudo o que se passa quase que com indiferença, com um humor sombrio nos seus lábios finos e em seus olhos esverdeados. Eu nunca o vira anteriormente, e de alguma forma, sei que não é um dos subalternos de Silas. Não parece se submeter a ninguém, observando tudo e todos com um olhar soberbo.

Encontro o olhar implorativo de Dan que se dirige furioso ao desconhecido.

__O que você fez, William?! O que você quer de mim?!

__Eu não fiz nada, Dan. Apenas contei a sua família quem você é, na verdade. Eu nunca pensei que eles ficariam tão abalados.

__Henrique, meu filho! Diga que ele está mentindo! Como você pôde fazer isso?!__Exclama Adelaide se afastando do filho, embora mal consiga se manter de pé, olhando-o incrédula e arrasada.

__Um assassino! Você é um assassino! Saia da minha casa! __Ouço Heitor trêmulo esbravejar para Dan, segurando com dificuldade Adelaide quase desacordada em seus braços. Eu me aproximo tentando ajudá-los sendo recebida por seu olhar de repulsa. __Você não é melhor do que ele! Pagar pelas mortes dos próprios pais! Vocês se merecem!

__Vocês mentiram para mim! __Grita Adelaide com esforço, levando a mão em aperto ao peito, com as lágrimas banhando sua face que se contorce numa expressão de dor. __Você nunca deveria ter voltado, Henrique! Não é mais o meu filho! Eu não criei um monstro! Um assassino! Eu não posso ter dado tanto amor a você, para que se tornasse isso!

__Mãe, calma. Pai, você já chamou uma ambulância?

__Eu já chamei. __Ouço William informar indiferente. __Eu não vim executar ninguém.

__Não me chame de pai! Você deveria ter morrido e nunca ter voltado para sujar a minha casa, macular a honra da minha família. Você não pertence mais a essa família, não pertence há dez anos. Nunca deveria ter voltado para nos envergonhar. Era melhor que tivéssemos sabido apenas de sua morte, ou que nem mais tivéssemos ouvido nada sobre você. Mas você já está morto para nós. E está matando sua mãe de decepção. Saia dessa casa e nunca mais volte.

__Pai, não é o momento para isso. A mãe está muito mal.

__Por sua causa! Saia daqui. __Heitor vocifera com o rosto em brasas.

__Eu não vou sair daqui! A mãe precisa de mim! __O olhar de Dan parece perdido, como uma criança que é descoberta, mas ainda tenta consertar as coisas.

__Tire-o daqui, Heitor. Eu não posso vê-lo. Isso está me matando. Eu não mereço... __E então o seu corpo inerte teria tombado ao chão se Dan não tivesse ajudado seu pai a segurá-la.

Eu me afasto para que os enfermeiros da ambulância que chegaram pedindo calma possam passar. Eles levam o corpo de Adelaide até uma maca, sendo acompanhados por Dan e seu pai, ambos aflitos. Dan insiste para que possa acompanhá-los na ambulância, no entanto, seu pai reage dizendo que fora sua culpa tudo o que acontecera, e então desiste permanecendo ao meu lado atordoado.

Eu o abraço e o beijo tentando tranqüilizá-lo, entretanto Dan se desvencilha do meu abraço enfurecido, atacando William que permanece estático sorrindo com sarcasmo.

__É assim que você recepciona velhos amigos, Dan?! __Sorri não se importando que Dan esteja o pressionando contra a parede, segurando-o pelo terno escuro, numa posição que não parece nada confortável, ainda mais com o olhar enlouquecido que Dan o dirige.

__O que você está fazendo aqui, William? Eu poderia matá-lo agora. Mas não quero sujar minhas mãos.

__Eu diria que elas já estão bem sujas, Dan. E não queremos assustar sua bela companhia, não é? __Ironiza destinando seu olhar sombrio aos meus olhos, me fazendo estremecer diante de sua visão ameaçadora. Dan o liberta quando ele informa que veio em missão de paz, querendo apenas conversar. William arruma seu terno caro, sorrindo para mim em cumprimento. Eu desvio o olhar com repulsa provocando sua gargalhada.

__Em missão de paz, William? Você não vai se meter na minha vida novamente, porque eu não vou permitir. __Declara Dan tentando recuperar a calma, o encarando friamente.

__Eu já me meti, Dan. E não vou sair até que você me dê tudo o que eu quero.

__E o que você quer além de matar minha mãe?!

__Eu quero sua ajuda em nome dos velhos tempos. Eu quero sua ajuda numa tarefa que você não concluiu.

__Do que você está falando? __Diz, embora eu perceba em seu olhar que Dan sabe e está apreensivo com o que William pode falar.

__Silas me contratou para matar os pais dela. E se você me disser onde eles estão, eu poupo a garota. E disfarço bem melhor do que você a sua morte. Que golpe você deu no Silas, Dan! Golpe de mestre! Deve ter ganhado uma bolada dos dois lados.

__Os meus pais estão mortos. __Repito enfurecida pelo que parece ser a milésima vez.

__Tem certeza, Manuela? __Ouço William perguntar com seu olhar frio fixo no meu. __Talvez você queira dar uma olhada nisso.

E então eu pego hesitante o envelope de suas mãos antes que Dan possa me impedir com um olhar de reprovação. E eu vejo. Meus pais almoçando num restaurante cujo nome é em francês, embora pela bandeira eu perceba ser no Canadá. Minha mãe com os cabelos curtos num tom forte de vermelho, com as mãos sobre as do meu pai, com os cabelos crescidos e uma barba mal aparada.

O grito de horror que eu liberto faz Dan correr para me abraçar, mas eu me afasto apavorada. Eles estão vivos! Eles estão vivos! Eu grito repetidamente incrédula, entre feliz e aturdida. Eles estão vivos! Olho as outras fotos enlouquecida, outra e outras imagens, em diferentes lugares. Eles estão vivos. Eu caio em prantos, sentindo minha mente turva, quando o peso do meu próprio corpo se torna insuportável para mim.

Antes que eu caia desacordada ao chão sinto o abraço tenso de Dan que se esforça para encontrar o meu olhar, embora seja difícil enxergá-lo quando minha vista se torna tão escura, como num eclipse solar, tudo se fechando para mim na escuridão.

__Manuela, Manuela! __Ouço Dan exclamar preocupado tentando me manter acordada enquanto eu não sei ao certo se estou num sonho, num pesadelo ou num mundo paralelo. __Eu não queria que você soubesse assim.

__O quê?! __Grito embora minha voz pareça estranhamente distante, assim como o rosto de Dan, embora eu sinta os seus lábios na minha testa e na minha boca. __O quê?! O quê?! __Pergunto formando meu próprio eco.

__Eles quiseram assim. Eles me pediram que fosse assim para sua própria segurança. Manuela, olha para mim. Olha para mim. __Ordena quando eu não consigo focalizar meu olhar, sentindo o mundo explodir não de uma forma boa, mas de uma forma violenta, com meu corpo queimando em desespero e meu coração estourando quando meu sangue começa a ferver.

__Afaste-se de mim. __Ouço-me vociferar me afastando do seu abraço e indo até William que contempla a cena entretido, num ímpeto de consciência, antes que tudo se torne irreal para mim novamente. __Como você conseguiu isso? Quando?

__Nessa última semana. Devem estar num passeio romântico e não quiseram levá-la. Eu sinto muito. Acho que você não era muito bem-vinda.

__Cale-se, seu idiota. Vai embora daqui, William. Antes que eu não me importe mais em sujar minhas mãos. __Exige Dan o empurrando violentamente para fora da casa. __Saia daqui.

__Tem certeza de que não vai me ajudar, Dan? O Silas disse que perdoaria os dois...

__Dane-se o Silas, e dane-se você. Vai embora.

Eu me sento desolada no chão da varanda, quando vejo William ir embora no seu carro, sorrindo ao olhar para trás. Eu não acredito no que está acontecendo. Talvez seja apenas mais um de meus pesadelos confusos, que eu não tivera desde que declarara meu amor a Dan, mas talvez eles tenham voltado. Eu preciso acordar. Falo para mim mesma, ainda com minha visão turva pelas lágrimas que banham minha face. Eu preciso acordar e Dan estará ao meu lado para me consolar, e nós sorriremos disso tudo, porque não é possível que isso esteja realmente acontecendo.

Meus pais não podem estar vivos e terem me abandonado por todo esse tempo. E Dan não pode ter mentido para mim. Isso não está acontecendo. Isso não está acontecendo. Eu preciso acordar e sentir Dan ao meu lado, me dizendo que eu apenas tive um sonho ruim. Mas quando eu o vejo se aproximar encarando apreensivo o meu rosto, percebo que talvez ele não seja uma companhia tão segura.

Eu me afasto, levantando-me subitamente, quando ele se aproxima acariciando meu rosto, deixando um rastro de fogo ao seu mínimo toque.

__Manuela, eu sinto muito. Eu tentei contar a você...

__Você tentou me contar?!

__Sim... Mas você disse que perdoava qualquer coisa que eu tivesse feito no passado, e eu pensei que isso também estivesse incluso.

__A morte dos meus pais?! Você deixou que eu acreditasse que meus pais tivessem morrido! Quantas vezes eu pensei em me matar me sentindo culpada por não ter lhe entregue à polícia no meu aniversário?

__Eu não permitiria que você fizesse essa loucura.

__Mas eu poderia ter feito, e eu estava morrendo por dentro. E você realmente se importaria, Dan?! Ou não me deixaria fazer isso e me salvou tantas vezes apenas porque fazia parte de algum acordo doentio que você fez com meus pais?

__Manuela, me ouve. Os seus pais me pediram para não contar nada a você, para sua própria segurança e a deles. O Silas me contratou, na verdade, eu apenas fiquei sabendo pelo Levi, um dos meus contatos, que alguém queria a morte da sua família, por três milhões de euros. E que assim que eu aceitasse, enviariam a metade para minha conta. Eu já estava acostumado a fazer isso, e entediado. E era muito dinheiro. Eu comecei a investigar a sua família, e realmente fiquei surpreso por alguém querer matá-los. Seu pai parecia muito honesto, por isso eu pensei em casos de herança complicada, embora não houvesse parentes próximos. 

“Por fim, eu contatei seu pai. Informei-o de que alguém me pagara para matá-lo. Eu queria uma aventura, me arriscar, algo que eu nunca fazia. O seu pai me disse que imaginava quem fosse, e que estava com problemas financeiros. Porém, me falou que se juntasse todas as suas economias conseguiria me dar cinco milhões de euros, de uma vez só. Ele estava desesperado com a segurança da sua família...”

__Pára, Dan. Eu não quero ouvir. Eu não quero acreditar.__Declaro chorosa.

__Você precisa ouvir. E se você quiser, eu posso deixá-la com eles e conto tudo no caminho. O William já sabe onde os seus pais estão, e ele é muito perigoso.

__Eu não vou com você a lugar algum.

__Manuela, o William descobriu que estamos aqui. Logo o Silas saberá e virá atrás de você.

__Eu não me importo.

__Eu me importo. Por favor, entre no carro e ouça o que eu tenho para lhe dizer. Depois, você pode fazer o que quiser.

Sem fazer resistência, ainda atônita, me vejo obedecer a Dan, ouvindo contra minha vontade o seu relato.

__E então o seu pai me ofereceu um acordo. Eu o alertei de que para terem me oferecido tal quantia, deviam querer com muita urgência a morte deles, e era bem provável que tivessem contratado outros executores. O seu pai me disse que reforçaria a segurança, até que pudéssemos simular as mortes, para que pudessem fugir do país. Mas temia pelo seu aniversário, uma vez que você não sabia de nada, e ele e sua mãe não queriam alarmá-la. Eu disse que era provável que algum outro executor aparecesse, mas o tranqüilizei dizendo que a protegeria. Ele já havia depositado o dinheiro, e de assassino agora eu passaria a segurança de vocês.

__Dan, eu já entendi. __Declaro quando ganhamos novamente a estrada, na direção de onde pegaremos o avião, tentando conter as lágrimas, para não deixar ainda mais ridícula minha situação. __O meu pai o pagou para cuidar de mim, para não atrapalhá-los nos seus planos. Eles não conseguiriam me salvar de todas as confusões que eu me meti. Foi melhor ter pagado você para me salvar todas essas vezes. Meu Deus, como eu fui uma idiota. Achando que você tinha me salvado tantas vezes porque me amava. Eu fui tão ingênua. Meu Deus! Que idiota!

__Manuela, você não sabe do que está falando! Se eu não tivesse conhecido você naquela festa, eu nunca teria aceitado esse plano. Fui eu que o propus, porque eu sabia que seria muito perigoso para você. Eu não estava mentindo quando disse que só estava retribuindo um favor. Você me poupou de matar inocentes, e eu decidi proteger você até que pudesse se encontrar com seus pais no exterior.

__Dan, você não precisa fazer isso. Foi uma farsa. Você estava sendo bem pago esse tempo todo, e ainda aproveitou para se divertir um pouco. Resolveu misturar trabalho e diversão. Ah, meu Deus, a não ser que meu pai tenha pagado você para me conquistar. Ele não faria isso.

__Eu nunca me venderia dessa forma, Manuela. Eu propus cuidar de você até se encontrarem num lugar seguro, e sua mãe adorou a idéia. Ela viu que seria mais seguro, pois se eles fossem pegos pelo Silas, e assassinados, nunca encontrariam você. E disse que seria melhor que você imaginasse que eles estivessem mortos, pois não sofreria duas vezes, não teria a esperança de encontrá-los ainda vivos, nem pensaria em fugir e se arriscar para encontrá-los. E caso fôssemos pegos pelo Silas, provaria sua inocência se você não soubesse nada do plano, e talvez ele poupasse sua vida.

__Eles não tinham esse direito, Dan. Eu queria ter tido direito de escolha, se eu concordava com o plano. Tudo o que mais me mortificou quando eu pensei que eles estivessem mortos foi que eu não pude morrer junto com eles. Era tudo o que eu queria. Ter morrido junto com eles.

__Manuela, o que você está dizendo? Os seus pais são loucos por você. Eles só quiseram protegê-la.

__Mas eles não podiam ter feito isso dessa forma, Dan! E você? Você não precisava obedecer a eles. Eu não perdôo você por não ter contado a mim. Meu Deus! Eu entreguei a minha vida a você, e não podia ter me contado algo tão importante?! Como eu sou idiota. Eu apenas me surpreendo mais a cada dia. Eu me apaixonei por você quando você só estava fazendo o seu trabalho. Eu achei que você me amava por isso que estava cuidando de mim. Você deve ter achado que eu era uma louca e uma oferecida completa.

__Manuela, eu aceitei cuidar de você achando que nunca tinha ganhado dinheiro tão fácil. Eu acabava de conseguir oito milhões de euros, quase vinte e cinco milhões de reais, para forjar três mortes e levar uma garota de dezessete anos para fora do país. Era só isso. E então você fugiu, eu salvei você. Eu poderia não ter salvado. Os seus pais fariam o quê comigo? Nós só recuperaríamos o contato um do outro quando estivéssemos em segurança fora do país. E eles poderiam nem estar mais vivos. Eu poderia não ter me arriscado. Mas eu fui lá, não foi nada demais para mim. Porém eu não estava arriscando a minha vida, eu estava arriscando que você se tornasse uma parte importante dela. Eu não deveria ter me importado com você, mas eu me importei. E isso acabou comigo.

“Eu nunca havia me importado com ninguém. No entanto, eu me vi desesperado quando você fugiu, e furioso por você ter traído a minha confiança. Mas você estava confusa e eu a perdoei. E então quando você estava conversando com aquele rapaz na pousada, eu já estava desconsertado com a morte do Levi, e fiquei enfurecido com você. Aquilo não era normal. Eu quis te deixar lá. Eu deveria ter feito isso. Uma pessoa importante para mim morrera por sua causa e você ainda estava flertando com um cara, quando tudo desabava à sua volta. E eu vi naquele momento, que você já estava virando tudo de cabeça pra baixo, já estava mudando o meu mundo.

Eu não podia permitir. Eu tentei mostrar a você quem eu realmente era. E então você prepara um jantar de Natal, diz todas aquelas coisas, e ainda me beija. Eu não sei de onde eu tirei forças para me afastar de você naquela noite. Eu estava fora de mim. E fugi transtornado. Mas você já sabe tudo o que aconteceu depois. Eu nunca menti para você, Manuela.

Mas eu devia ter contado, nunca imaginei que essa seria a única forma de evitar você. Se eu tivesse contado que seus pais estavam vivos, e que havia esperança de tudo voltar a ser como era antes na sua vida, a sua faculdade, sua cidade, seus amigos e seu namorado, você nunca teria ficado comigo. Porque você só ficou comigo porque eu era a sua única escolha. Porque você só tinha a mim, e era grata.”

__Você não sabe nada sobre mim, Dan. Eu jamais teria me entregue a você, apenas porque você era só quem eu tinha, ou por gratidão. Não é porque você mesmo não se ama, que eu não posso amar você.

__Manuela, mas é a verdade. E eu queria ter falado desde o primeiro momento, quando você acordou. Mas qual foi a primeira coisa que você falou? Você agradeceu a mim por ter salvado você? Não. Você me acusou de ter matado os seus pais, porque sabia o que eu era, um assassino. Mas quando viu que só tinha a mim, viu que era melhor do que nada. Quem se apaixonaria pelo assassino dos próprios pais?

__Quem é você para me julgar, Dan? Eu pensei que tivesse um lado bom em você, mas quem diria que ele surge apenas quando comprado pelo dinheiro? Ainda bem que meu pai tinha dinheiro para pagá-lo, senão você passaria por mim e nem ao menos olharia. Eu achando que você era capaz de amar uma pessoa, mas você só estava atrás do dinheiro do meu pai. Eu não acredito que fui capaz de acreditar que você me amava! Você, incapaz de amar qualquer um!

__Talvez seja melhor assim, Manuela. Que você me odeie. Você não foi a única ingênua. Pode ficar surpresa, mas eu acreditei que tivéssemos um futuro, só não sabia que ele duraria tão pouco. E que viraria passado assim que você descobrisse que todo seu drama foi uma farsa. Eu só não queria ter acreditado tanto nela. Eu acabei caindo na minha própria armadilha. Mas não me arrependo.

__Não venha se fazer de vítima, Dan. Você não combina com esse papel. O seu papel sempre vai ser o de vilão. Porque é isso o que você é. Um assassino. __Soluço, cobrindo o meu rosto com as próprias mãos. Eu não acredito como posso estar falando isso, mas talvez com a mesma força que o amo, eu o odeio por ter me traído, ter me feito acreditar em suas mentiras.

            __Eu nunca traí o meu papel. Ainda estou o exercendo como posso. Mas não se preocupe, Manuela. Eu pararei de ser o vilão da sua vida. É isso o que eu sou, um assassino. Mesmo quando não sou eu que puxo o gatilho. A minha mãe está à beira da morte por minha culpa, e com você não aconteceria diferente se prolongássemos isso. Eu agradeço que a nossa separação não seja contrária à vontade de nenhum dos dois, e que ambos estejamos em comum acordo. Os seus pais não precisam saber de nada, nem da sua, nem da minha falha. Ninguém precisa saber que nós estivemos juntos, se é que nós realmente estivemos juntos algum dia. Talvez, algum dia próximo ou distante, seja como se nada disso nunca tivesse acontecido.
            E eu não respondo. Porque com as lágrimas que inundam meu rosto, destruindo a minha alma, eu não consigo nem mesmo respirar.

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